Por que não dá para esperar um dólar abaixo de 4 reais tão cedo
Desde o início do ano – quando estava cotado a R$ 5,36 – o dólar já caiu quase 10%. Ontem, fechou cotado a R$ 4,767, menor valor em mais de um ano e queda de 9,72% desde o começo do ano.
A queda no ano fez o real ficar entre as dez moedas mais valorizadas em relação ao dólar do mundo desde o começo do ano. A Austin Rating analisou 120 moedas. Levando-se em consideração o preço do fechamento do dia 19 de junho, o real ficou em sétimo lugar.
Para onde o dólar vai?
É improvável que o dólar caia abaixo dos R$ 4. As perspectivas dos especialistas é que fique entre R$ 4,30 e R$ 5,00 até o fim do ano. No ano que vem, pode chegar a até R$ 6.
O dólar não deve cair para abaixo dos R$ 4,50, acredita Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. A XP, por exemplo, projeta a moeda americana em R$ 5,00 no final de 2023 e a R$ 5,15 no final de 2024.
O banco americano Goldman Sachs tem uma estimativa mais otimista. Ele calcula que o valor justo para o real é em torno de R$ 4,30. “Estimamos que o dólar caia para R$ 4,60 em três meses, para R$ 4,40 em seis meses e fique em R$ 4,40 em 12 meses.”
Os especialistas consultados pelo boletim Focus, do Banco Central, acreditam que o dólar chegue a R$ 5 no fim do ano, e R$ 5,10 no ano que vem. O C6 Bank acha que no ano que vem a moeda americana vai chegar a R$ 6.
O que impede que o dólar caia para R$ 4?
O principal fator que impede que o dólar caia mais é a inflação acumulada. Descontando a inflação, um dólar cotado a R$ 4 seria igual à cotação de R$ 2 de 2012, segundo Gala.
Historicamente, a inflação brasileira sempre foi mais alta que a americana. Isso se inverteu este ano. Em maio, último dado, a inflação americana ficou em 4% nos últimos 12 meses, enquanto a brasileira ficou ligeiramente abaixo disso, em 3,94%, para o mesmo período. Se, daqui para frente, a inflação americana continuar nesse patamar, empatando com o índice brasileiro – que é o cenário mais provável -, a queda do dólar vai perdendo força.
Ruídos políticos atrapalharam o câmbio. “Já era para o real estar em R$ 4 há algum tempo porque outras moedas de países emergentes vem ganhando valor este ano”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. Ele diz que as dúvidas sobre como seria o governo Lula impediram que mais investidores aplicassem seus dólares por aqui.
Gasto público e andamento das reformas também influenciam o câmbio. Se o governo brasileiro gastar muito, o dólar tende a subir. Isso porque a inflação fica maior e a dívida do país também, tornando o Brasil mais arriscado para investidores. Se as reformas não forem tão eficientes quanto espera o mercado, o real tende a se desvaloriza.
Economia chinesa também influencia o dólar. Se o país oriental puser o pé no freio das importações, o Brasil venderia menos minérios e produtos agrícolas e entrariam menos dólares aqui.
Outro problema é o uma possível queda no valor de produtos básicos, como grãos e petróleo. Para a corretora XP, o preço internacional de petróleo e alimentos tende a cair.
Se o dólar cair abaixo dos R$ 4,50, exportadoras perdem. “Os produtos nacionais ficam muito caros lá fora e as exportações caem”, afirma Gala.
O que ajudaria o dólar a cair?
A diferença de juros entre o Brasil e os EUA pode ajudar o dólar a cair. Se o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), não subir mais os juros, investidores irão procurar investimentos mais rentáveis. Isso poderia trazer mais dólares para o Brasil, diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest. Com a expectativa de o Fed interromper o ciclo de alta de juros nos EUA, os investidores se sentiram mais seguros para investir em mercados mais arriscados, como os emergentes.
Nessa situação, o Brasil sai ganhando. Enquanto na Turquia a reeleição de Recep Tayyip Erdogan afasta o investidor – assim como acontece na Rússia – a inflação também assusta quem olha para a África do Sul e para a Argentina. Países como Índia e México estão caros.
Aqui, a Bolsa está barata. “Os investidores só não vieram antes por causa das incertezas em relação ao início do governo. Não fosse isso, o dólar já teria começado a cair antes”, diz Alves.
No Brasil, os juros também influenciam o dólar. Se a inflação cair mais, o Banco Central do Brasil pode baixar os juros e a economia deve crescer. Isso valorizaria o real em relação ao dólar. Além disso, o andamento das reformas, como a nova regra fiscal e a tributária, também ajudariam o dólar a cair.